É lindo subir no carro dos derrotados, dos oprimidos, dos explorados. É cômodo proclamar-se operário cognitivo e unir-se à luta do proletariado internacional contra o capitalismo. Tudo, com a condição de não admitir que na linha de frente dos «inimigos do povo» poderíamos ser nós mesmos: intelectuais e pseudointelectuais, artistas de domingo full time, escrevinhadores e burocratas da cultura. Nós, que vivemos com salários ridículos? Nós, com frequência sem trabalho, com semitrabalho, ex-empregados – nós, de verdade? Sim, justamente nós: desde sempre amarrados ao barril do qual jorra a mais-valia e hoje atormentados pela sede porque o jato enfraquece, se dispersa em mil fluxos, já não é o suficiente. Classe adequada com cada vez menos perspectivas; em suma, classe inadequada. A presumida tragédia dos proletários cognitivos é, na verdade, uma tragédia da burguesia: uma classe rica, mas não rica o bastante. Rica para estudar e aculturar-se, com frequência mal, mas não o suficiente para levar a vida que estava convencida de que merecia.