Teoria da classe inadequada

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É lindo subir no carro dos derrotados, dos oprimidos, dos explorados. É cômodo proclamar-se operário cognitivo e unir-se à luta do proletariado internacional contra o capitalismo. Tudo, com a condição de não admitir que na linha de frente dos «inimigos do povo» poderíamos ser nós mesmos: intelectuais e pseudointelectuais, artistas de domingo full time, escrevinhadores e burocratas da cultura. Nós, que vivemos com salários ridículos? Nós, com frequência sem trabalho, com semitrabalho, ex-empregados – nós, de verdade? Sim, justamente nós: desde sempre amarrados ao barril do qual jorra a mais-valia e hoje atormentados pela sede porque o jato enfraquece, se dispersa em mil fluxos, já não é o suficiente. Classe adequada com cada vez menos perspectivas; em suma, classe inadequada. A presumida tragédia dos proletários cognitivos é, na verdade, uma tragédia da burguesia: uma classe rica, mas não rica o bastante. Rica para estudar e aculturar-se, com frequência mal, mas não o suficiente para levar a vida que estava convencida de que merecia.

O que acontece se toda uma geração, nascida burguesa e criada na convicção de poder melhorar – ou, na pior das hipóteses, de manter – a própria posição na pirâmide social, de repente descobre que as vagas de trabalho são limitadas, que o que considerava direitos são, na realidade, privilégios e que nem empenho e talento serão suficientes para defender essa posição do terrível espectro do desclassamento? O que acontece quando a classe adequada se descobre inadequada? A resposta está diante de nós todos os dias: um exército de pessoas entre vinte e quarenta anos, decididas a postergar a idade adulta colecionando títulos de estudo e trabalhos temporários à espera de que as promessas sejam finalmente realizadas, vítimas de uma estranha «disforia de classe» que as leva a viver acima do que lhes permite seus meios, a dilapidar o patrimônio familiar para ostentar um estilo de vida que dá testemunho, ao menos em aparência, de seu pertencimento à burguesia. Num percurso que vai de Goldoni a Marx, de Keynes a Kafka, lendo a economia como se fosse literatura e a literatura como se fosse economia, Raffaele Alberto Ventura formula uma autocrítica impiedosa dessa classe social, «demasiado rica para renunciar às próprias aspirações, mas muito pobre para realizá-las». E, sobretudo, desmonta o papel das instituições laicas que continuamos a venerar: a escola, a universidade, a indústria cultural e o social web. 

Raffaele Alberto Ventura
Raffaele Alberto Ventura (1983) é um escritor italiano. Em seus livros, analisa as contradições da modernização, com atenção especial aos efeitos da acumulação de capital simbólico e da busca por reconhecimento.
Peso 500 g
Dimensões 14 × 2 × 20 cm
Tradutor

Vinícius Nicastro Honesko

Número de páginas

276

ISBN

978-6559980369

Ano de publicação

2022

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