Pasolini – o fantasma da origem é a tentativa de trazer à tona a complexidade daquele que talvez tenha sido um dos últimos intelectuais públicos, uma complexidade que emerge banhada não só de antíteses, como vida individual e coletiva, mas também de aparentes contradições entre conservadorismo e o mais alto grau de subversão, entre uma sacralização do milagre do mundo e um ateísmo marxista – “cristianismo ateu”, como diz Recalcati. Pasolini critica o conluio entre um Novo Fascismo e a então crescente civilização do consumo, e sonha com um tempo mítico, onde o mistério do mundo se expressa, por exemplo, no desaparecimento dos vaga-lumes. Assim, se o “Novo fascismo não se funda sobre um regime policialesco que nega a liberdade individual, mas sobre um regime paradoxalmente permissivo que retira todo o sentido mitológico e religioso da vida em nome de uma ilimitada promessa hedonista”, o desaparecimento dos vaga-lumes é o “símbolo de um tempo em que o mistério ainda habitava o mundo”. Pasolini é o retrato de um conflito não resolvido entre vida e história, corpo e razão, indivíduo e comunidade, mito e desmitização; as metamorfoses do poder e a resistência da palavra.
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