Foi Mário Pedrosa quem, despojando-se da grandiloquência de Victor Hugo, adaptou o pensamento do romântico francês sobre o poeta como um «eco sonoro» para definir o crítico como «uma espécie de grilo chato que não para, num canto da sala grande social, de dar sinal de sua presença». O renomado crítico brasileiro, cuja trajetória intelectual é contemplada no ensaio que abre esta coletânea, parece afinar de partida a voz contundente da própria Laura Erber nos doze textos que se seguem a este primeiro. Ora percorrendo biografias como a da galerista Ileana Sonnabend e de Tunga, ora em análises de obras de Rosana Paulino e Anna Bella Geiger, para citar dois exemplos, ora debruçando-se sobre temas mais abrangentes, tais como monumentos e pixações no espaço urbano e o uso de bandeiras em manifestações de rua e na arte contemporânea – valendo-se, então, de diferentes obras para conduzir suas investigações –, a escritora e artista visual observa atenta a relação entre arte e política, propondo pontos de vista que ampliam o entendimento de eventos recentes nas artes brasileiras. A criatividade como parte fundamental de uma nova etapa de domesticação do trabalhador é, enfim, um dos aspectos abordados no texto que encerra a edição e lhe dá título; nele, a autora passeia pelos temas do ócio, do produtivismo e da mercantilização do imaterial para articular o lugar do trabalho na sociedade, na arte e no mercado artístico contemporâneo – em que «é possível vender inclusive o tédio, a preguiça e o não fazer», escreve.