Nunca é o momento certo para ter um filho. Primeiro queremos viver, viajar, trabalhar. Antonella quer se tornar uma escritora: sua ambição é absoluta, sem escapatória. É por isso que, aos vinte anos de idade, ela interrompe voluntariamente sua gravidez duas vezes. Quando, anos depois, ela se sente pronta, com um parceiro ao seu lado, é seu corpo que não está pronto. E assim começa o processo brutal de obstinação, obsessão e medicalização. Certas torturas, aspirações inconfessadas, felicidade efêmera e arrogante, sofrimento e raiva. Poderíamos dizer que é uma história já escrita, mas aqui não há nada de comum: é como narrar de dentro de uma avalanche, com a incrível capacidade, rolando, de olhar para si mesmo e não acreditar, e de desafiar a si mesmo, condenar a si mesmo, sorrir para si mesmo para se tornar corajoso. Em um crescendo de indescritível poder narrativo, Antonella Lattanzi descreve (em sua própria pele) a força inexorável de um desejo que não se detém diante de nada, mas também a culpa, a insensibilidade de alguns médicos, a amizade que sabe sustentar os silêncios e as confidências mais atrozes, o relacionamento de um casal sempre à beira da ruptura, a fúria feroz contra o mundo (e as mulheres grávidas). Mantendo o leitor por perto, grudado na página, com um uso magistral da edição, capaz de criar um suspense do tipo thriller. O mais incrível é que, ao mesmo tempo em que conta uma história excepcional e crua, esse romance consegue falar de forma verdadeira e profundamente relevante sobre todas as mulheres – mães e não mães – que em algum momento de suas vidas já se perguntaram: será que quero ter um filho? qual é o momento certo? terei que desistir de mim mesma, de minhas ambições? e por que todo mundo engravida e eu não?
«Tenho uma represa em minha cabeça onde estão escondidas todas as coisas que realmente doem demais. Essas coisas eu não quero contar a ninguém. Não quero pensar nessas coisas. Quero que elas nunca tenham existido. E se eu não as disser, elas não existirão.«