Pró ou contra a bomba atômica

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No prefácio a este impressionante Pró ou contra a bomba atômica, da escritora italiana Elsa Morante, o pesquisador e tradutor Davi Pessoa chama a atenção para o quanto essa reunião de textos-ensaios se cumpre, politicamente, a partir de um emaranhado em potência contra um sistema da desintegração. Elsa é um caso singular entre ação livre e invenção severa de escrita e pensamento, porque imagina mundos que ainda podem advir da literatura exatamente quando a projeta como forja e mistério. Tal como diz Giorgio Agamben ao sugerir que para ela, na literatura, a vida se apresenta misteriosamente. É o que se infere, por exemplo, em seus livros L’Isola di Arturo [1957] ou La Storia [1974], que podem ser lidos como uma espécie de estocada em torno da desumanização [que não é tratada como um tema nem com doses sentimentais próprias do que impera midiaticamente ao nosso redor], mas quando a felicidade, este tema sério e a sério, acontece como uma paródia e como um limbo.

É a experiência da ficção-crítica levada ao extremo da fabulação, procedimento também caro a Pasolini, um melhor entre os amigos, e a Alberto Moravia, companheiro de uma vida quase-inteira. O  empenho de Elsa para com o despojamento da ficção ao gesto de repetir até tocar um diferimento para o incomum, o ensaio, nesta reunião publicada dois anos depois de sua morte, em 1987, desfaz os termos, os conceitos, a fragilidade dos gêneros, e reabre um apontamento acerca disso que insistimos, com todo teor conservante, em chamar de contemporâneo. Diz ela: “As classes dirigentes contemporâneas, penosa expressão da cultura pequeno-burguesa, batem verdadeiramente o recorde da diminuição humana: conciliando, ao mesmo tempo, a frustração do erotismo e o sono da razão.”

E vale muito o esforço expandido, também político para publicar este livro no Brasil diante de tantas afirmativas óbvias que o recusaram. Ao lê-lo, com vagar e a fundo, entende-se bem alguns motivos. Um deles é que onde prolifera pensamento não brota o “romancezinho” ou o “criticozinho”. Agora temos finalmente circulando entre nós este livro urgente.

Manoel Ricardo de Lima

Acompanhe a playlist sobre o livro Pró ou contra a bomba atômica  produzida por Erika Ziller, no Spotify:

Elsa Morante
(1912-1985), considerada uma das mais importantes escritoras do século XX, inicia muito jovem a escrever as suas primeiras histórias em revistas e jornais. Em 1936 conhece Alberto Moravia e, em 1941, o casal se casa. Em 1948 é publicado o seu primeiro grande romance, Menzogna e sortilégio que recebe Prêmio Viareggio. Em 1957 é publicado L’Isola di Arturo, vencedor do Prêmio Strega. Seu casamento com Moravia se desfaz em 1961. Em 1963, publica a antologia de contos Lo scialle andaluso e em 1968 os poemas e canções que compõe o volume Il mondo salvato dai ragazzini e altri poemi. Morante publica em 1974 La Storia; ao que segue Aracoele, em 1982.
Peso 350 g
Dimensões 19,6 × 10 × 1,5 cm
Tradução

Davi Pessoa Carneiro

Revisão

Maria Fernanda Alvares

Preparação

Lígia Azevedo

Capa

Julia Geiser

Ano de publicação

2017

Páginas

156

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