Escreve Cristina Campo que a palavra é uma coisa terrível, um fio desencapado. A palavra de Fleur Jaeggy, neste livro que é a sua obra-prima, assemelha-se a uma estalactite: maravilho sa, transparente, gélida e repleta de reflexos. Estamos na Suíça dos anos 1950, no Appenzell, em uma atmosfera idílica e asfixiante. No colégio feminino frequentado pela protagonista, chega uma «novata»: severa, perfeita, de uma elegância régia, nela parecem ter baixado os poetas e as experiências dos adultos. Seu nome é Frédérique. A protagonista fica irremediavelmente atraída, assim como se é por aquelas figuras que parecem esconder algo de terrível dentro de si, para além da casca de esplendor. E o terrível, lentamente, aflora, até envolver nas suas espirais a protagonista. Nesse desfile de anotações cirúrgicas de perfeição milimétrica, inaugura-se o período da adolescência que todos nós atravessamos, aquele sombrio colégio no qual um dia nos tornamos adultos, enterrando a infância. A excepcionalidade da escrita de Fleur Jaeggy atinge aqui sua máxima clareza, a arte de quem é capaz de sentir coisas inquietantes e de descrevê-las sem hesitação.