Entre as histórias amargas da Europa do século XX, a da Letônia é uma concentração de dor e remoção. Um longo domínio soviético, três anos de ocupação nazista, a comunidade judaica quase totalmente destruída. Depois, nas décadas seguintes, um silêncio surdo, um esquecimento reservado tanto para as vítimas quanto para os carrascos. Entre eles estavam os membros do famoso Comando Arājs, considerado responsável por reunir os habitantes do gueto de Riga e levá-los à morte na floresta de Rumbula. Alguns, como o «Lindbergh letão« o herói da aviação Herberts Cukurs, escaparam para a América do Sul. Outros desapareceram no ar, como o avô de Linda Kinstler.
Ano dez do novo século: a notícia de que o procurador-geral da Letônia abriu uma investigação sobre Cukurs faz com que a autora se aprofunde nos assuntos de seu país natal e de sua família. Assim, Kinstler retraça a história de Cukurs, morto há muito tempo – o Mossad o assassinou em 1965 -, mas objeto de uma intensa campanha de reabilitação, e segue o rastro de seu avô Boris, de quem não se ouve falar desde o final da década de 1940. Ao fazer isso, ela se aventura na complexa relação que a nova Letônia europeia tem com seu passado e tenta explorar a maneira pela qual «a memória do Holocausto se estende ao presente e o condiciona«. Da história familiar, passamos inevitavelmente para a coletiva, reconstruída por meio de depoimentos de sobreviventes e seus filhos, da crônica de julgamentos realizados na Alemanha, na União Soviética e em Israel, de artigos em jornais brasileiros e de cartas trocadas por refugiados judeus em todo o mundo. Guiado pelas reflexões do acadêmico Yosef Yerushalmi, que se pergunta se o oposto do esquecimento não é a memória, mas a justiça, a autora ilumina os aspectos legais e os dilemas familiares, os legados privados e coletivos, observando «os fracassos, as vitórias e os silêncios da lei«, e tentando entender o que significa preservar a memória nesta nova era incerta.
«Evitando conclusões simplistas ou definitivas, Kinstler oferece um modelo de pesquisa histórica minuciosa combinada com uma narrativa empolgante e envolvente.«
«New York Journal of Books«