Aulas sobre Shakespeare

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«Há um processo contínuo de simplificação nas peças de Shakespeare. O que ele quer? Ele está erguendo um espelho diante da natureza. Nos primeiros sonetos, menores, ele fala de suas obras sobreviverem ao tempo. Porém, cada vez mais ele sugere, como faz Teseu em Sonho de uma noite de verão, ‘as melhores produções desta classe são simples sombra’ (v, 1, 214; Comédias, p. 204), que a arte é uma bela chatice. Ele gasta a vida nela, mas não acha que ela seja muito importante. […] Shakespeare tem muito apelo para mim em sua atitude em relação a sua obra. Há algo um pouco irritante na determinação dos artistas muito grandes, como Dante, Joyce, Milton, de criar obras-primas e de se achar importantes. Ser capaz de dedicar a vida à arte sem esquecer que a arte é frívola é uma tremenda realização da força de caráter pessoal. Shakespeare nunca se leva a sério demais».

Entre outubro de 1946 e maio de 1947, com frequência semanal, Auden dá uma série de aulas na New School for Social Research de New York, dedicadas ao teatro e aos Sonetos de Shakespeare. Mas engana-se quem imagina terem sido seminários sisudos e exclusivos para doutorandos em literatura inglesa: Auden voltava-se para um público diversificado, agitado e entusiasmado de não menos do que quinhentas pessoas ― tanto que era comumente obrigado a «berrar a plenos pulmões» e pedia àqueles que não conseguiam ouvi-lo para não levantarem a mão «porque eu também sou míope». Armado apenas da edição Kittredge das obras de Shakespeare, da vastidão prodigiosa da sua cultura e do seu incomparável humor ― mas principalmente da convicção de que a crítica é uma conversa improvisada ―, Auden falava o que lhe vinha à cabeça, encantando a todos. Mas também perturbando-os com a sua destemida falta de escrúpulos típica do outsider: em vez de enfrentar as Alegres matronas de Windsor, ele fez ouvir Falstaff, afirmando que a peça não tinha outro mérito que não o de ter servido de inspiração a Verdi. E chegando à Megera domada advertiu que não se deteria muito ali porque era um fracasso total ― partindo da crítica ferina para um excursus sobre a farsa, que ia do Grande ditador de Chaplin a irresistíveis considerações sobre a guerra entre os sexos. Mas é talvez na aula dedicada a Antônio e Cleópatra, a obra preferida, que conseguimos apreender as razões da apaixonada adesão do público, pois, mesmo no papel de crítico, Auden permanece essencialmente um poeta, capaz de falar a todos ― com a mesma milagrosa leveza que atribuía a Shakespeare.

W.H. Auden
As aulas de Auden (1907-1973) sobre Shakespeare, publicadas em 2000, foram pacientemente reconstruídas por Arthur Kirsch com base nas anotações de alguns estudantes que participaram das aulas, em particular as de Alan Ansen, que se tornou sucessivamente secretário e
amigo de Auden.
Peso 700 g
Dimensões 14 × 2 × 20 cm
Tradutor

Pedro Sette-Câmara

Número de páginas

589

ISBN

978-8592649746

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