Entre as correspondências que Hugo von Hofmannsthal guardou (1874-1929), as cartas trocadas na juventude com Edgar Karg (1872-1905) ocupam um lugar de destaque, tanto que próprio poeta chegou a pensar em publicar boa parte delas, em uma antologia que recolheria o melhor da sua produção juvenil. Ao mesmo tempo que o seu precoce talento é celebrado nos círculos literários, Hofmannsthal procura aqui aproximar à própria existência de «poeta» um amigo que, ocupado nos serviços da Marinha frequentemente muito distantes, não pode compartilhar com ele a mesma riqueza cultural. Não se tratava, porém, de fazer trabalho de baixa divulgação, mas, sim, de liberar a poesia da atmosfera artificiosa dos salões e das academias, colocando-a em relação à existência dos homens. Temas e problemas que desempenham um papel fundamental na sua obra e em boa parte da poesia moderna, são, aqui, enfrentados de maneira imediata, e são continuamente confrontados e relacionados às experiências cotidianas e aos afetos comuns. De um lado os primeiros passsos dados por Hofmannsthal no «caminho em direção à vida», na tentativa de romper, graças a essa amizade, o isolamento do artista. Do outro uma límpida, inédita perspectiva sobre a reflexão empreendida por Hofmannsthal sobre a literatura, sobre a sua relação com a vida, e em geral sobre a amizade e a formação do indivíduo. Um daqueles raros casos em literatura em que a expressão une felizmente imediatismo e profundidade.